Se você leu “Ainda Estou Aqui”, vai se interessar por estes 4 títulos

Para quem se emocionou com "Ainda Estou Aqui", conheça obras que entrelaçam o pessoal e o político na literatura brasileira contemporânea

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Se você se emocionou com “Ainda Estou Aqui“, de Marcelo Rubens Paiva, certamente apreciará outras obras que exploram memórias familiares, traumas históricos e a reconstrução da identidade.

A literatura brasileira contemporânea oferece narrativas que, assim como o livro mencionado, entrelaçam o pessoal e o político de maneira tocante. A seguir, apresento quatro livros que dialogam com esses temas, proporcionando experiências de leitura igualmente profundas e impactantes.

Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva

Capa do livro feliz ano velho
Feliz Ano Velho – Marcelo Rubens Paiva

Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva, é uma autobiografia escrita durante seu processo de reabilitação, após um acidente em 1979 que o deixou tetraplégico. No livro, o autor relata com franqueza os impactos dessa experiência, alternando entre episódios da recuperação e lembranças da juventude.

Também estão presentes reflexões sobre a perda do pai durante o período da ditadura militar e sobre os caminhos da própria vida. A narrativa é conduzida com uma linguagem direta, permeada por ironia e sinceridade, criando um retrato íntimo e ao mesmo tempo crítico.

Marcelo Rubens Paiva é escritor, dramaturgo e jornalista. Ao longo de sua carreira, tem se dedicado a obras que abordam experiências pessoais em conexão com aspectos sociais e políticos. Em Feliz Ano Velho, essa aproximação entre o íntimo e o coletivo é feita com sensibilidade, criando uma obra que valoriza o ato de narrar para compreender a si mesmo e o mundo ao redor.

A autenticidade com que o autor compartilha suas vivências, somada ao uso de humor mesmo diante de situações adversas, dá ao livro uma força especial. Trata-se de uma leitura que provoca reflexão e empatia, especialmente por mostrar que, mesmo diante de limitações físicas e perdas, é possível reconstruir a vida e dar novos sentidos à própria história.

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O Avesso da Pele – Jeferson Tenório

Capa do livro O Avesso da Pele – Jeferson Tenório
O Avesso da Pele – Jeferson Tenório

O Avesso da Pele, romance contemporâneo de Jeferson Tenório, acompanha a trajetória de Pedro, um jovem negro que, após o assassinato de seu pai pela polícia, tenta reconstruir a história que herdou. Ao revisitar a vida de Henrique, Pedro também revisita suas próprias memórias e enfrenta questões sobre identidade, afetos e desigualdade. A narrativa coloca em foco a realidade da população negra no Brasil, tratando temas como racismo estrutural, violência policial e familia.

Lançado em 2020, o livro se insere em um momento de intensificação dos debates sobre justiça racial e representatividade. A escrita de Tenório estabelece conexões entre a esfera íntima e as estruturas sociais, compondo um retrato da experiência negra que dialoga com o presente do país.

Jeferson Tenório é escritor e professor de literatura. Ao longo de sua carreira, tem abordado com frequência temas ligados à negritude, desigualdade e resistência. Em O Avesso da Pele, esses elementos aparecem articulados em uma narrativa que valoriza o afeto e a escuta, sem abrir mão da crítica social.

Com um estilo marcado por delicadeza e precisão, Tenório oferece ao leitor um enredo que convida à reflexão sobre o que significa crescer, lembrar e resistir em um país atravessado pelo racismo. A relação entre pai e filho é construída com cuidado, revelando nuances de afeto, dor e ausência que permanecem mesmo após a morte.

A Palavra que Resta – Stênio Gardel

Capa do livro A Palavra que Resta – Stênio Gardel
A Palavra que Resta – Stênio Gardel

A Palavra que Resta, romance de estreia de Stênio Gardel, narra a história de Raimundo, um homem de 71 anos que decide aprender a ler após décadas de analfabetismo. O motivo que o leva a essa decisão é íntimo e silencioso: compreender, finalmente, o conteúdo de uma carta escrita por Cícero, seu amor da juventude, recebida cinquenta anos antes. A narrativa transita entre presente e passado, revelando as memórias de um amor marcado por proibições, silêncio e repressão.

Ao tratar de afetos interrompidos pela violência social, o livro aborda as dificuldades enfrentadas por quem vive relações homoafetivas em contextos de preconceito e exclusão. A leitura e a escrita, nesse cenário, tornam-se instrumentos de autonomia e reconciliação consigo mesmo, abrindo caminhos para que Raimundo compreenda não apenas o que foi dito por Cícero, mas também quem ele é, depois de uma vida marcada pela falta de acesso à educação e pela negação do afeto.

Stênio Gardel, autor brasileiro, apresenta nesta obra uma narrativa construída com cuidado e sensibilidade. Seu texto propõe uma reflexão sobre os efeitos da repressão e a potência da linguagem como meio de reconstrução pessoal.

Com delicadeza, o romance acompanha Raimundo em seu esforço de reaproximação com o passado, mostrando como o desejo de compreender uma carta pode carregar o peso de uma vida inteira. Mais do que um reencontro com palavras, trata-se de um reencontro com a dignidade, o amor e o direito de existir com verdade.

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Não És Tu, Brasil – Marcelo Rubens Paiva

Capa do livro Não És Tu, Brasil – Marcelo Rubens Paiva
Não És Tu, Brasil – Marcelo Rubens Paiva

Não És Tu, Brasil, de Marcelo Rubens Paiva, é um romance histórico ambientado no Vale do Ribeira, interior de São Paulo, durante as décadas de 1960 e 1970. A narrativa acompanha a infância e adolescência do protagonista em meio a um cenário marcado pela repressão da ditadura militar. Entrelaçando acontecimentos reais e ficção, o autor constrói um retrato das tensões políticas e sociais que marcaram a época, evidenciando como os efeitos do regime alcançavam até mesmo os espaços mais afastados dos grandes centros urbanos.

A obra propõe uma leitura sobre o impacto da repressão na formação de subjetividades, revelando como decisões políticas interferem diretamente na vida de pessoas comuns. O pano de fundo histórico serve como cenário, e também como elemento ativo da trama, moldando relações familiares, afetos e modos de ver o mundo. Por meio da memória, o romance articula passado e presente, reforçando a importância de revisitar a história para compreender o país e a si mesmo.

Marcelo Rubens Paiva é reconhecido por uma produção literária voltada a temas políticos e sociais, muitos deles atravessados por sua vivência durante a ditadura. Em Não És Tu, Brasil, ele retoma esse período com uma abordagem crítica, aproximando o leitor de questões que ainda ressoam na realidade contemporânea.

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