Um cálice romano, datado de 1.800 anos, encontrado em uma sepultura anglo-saxônica, intriga os pesquisadores

O Cálice Scremby: um objeto romano que Intriga arqueólogos

Uma descoberta arqueológica realizada em 2018 ainda provoca debates entre especialistas. Arqueólogos da Universidade de Sheffield encontraram um cálice romano de 1.800 anos, denominado Cálice Scremby, em um túmulo anglo-saxão do século VI no distrito de Lincolnshire, Inglaterra.

O objeto, cuidadosamente posicionado próximo à cabeça de uma mulher enterrada, levanta questionamentos sobre seu propósito e como chegou a esse contexto histórico.

Quem foram os anglo-saxões?

No século VI, os anglo-saxões firmaram sua presença na Grã-Bretanha, estabelecendo diversos reinos independentes conhecidos coletivamente como Heptarquia: Nortúmbria, Mércia, Ânglia Oriental, Essex, Sussex, Kent e Wessex.

Esses reinos frequentemente guerreavam entre si, mas compartilhavam uma cultura comum que se desenvolveu a partir da fusão das tradições germânicas dos migrantes com as influências romano-britânicas locais.

Durante esse período, o cristianismo começou a se reintroduzir na região, especialmente após a missão de Santo Agostinho em 597, que resultou na conversão do rei Etelberto de Kent e estabeleceu as bases para a cristianização dos demais reinos anglo-saxões nos séculos subsequentes.

LEIA MAIS: Separação e esperança: a história real que inspirou o épico italiano

Características do Cálice Scremby

O cálice romano, feito de liga de cobre esmaltado, mede 5,7 cm de altura e comporta cerca de 280 ml. Além disso, a superfície exibe padrões elaborados, como corações preenchidos com esmalte em tons de vermelho, azul profundo e água-marinha, típicos do artesanato romano.

Taça romana Scremby encontrada em uma tumba anglo-saxônica (H. Willmott et al)

Além do cálice, os arqueólogos descobriram broches e pulseiras no túmulo. Contudo, foi o cálice, intacto e posicionado de forma estratégica, que atraiu mais atenção, sugerindo um uso cerimonial ou ritual.

Análises químicas indicaram a presença de traços de gordura de porco no interior do cálice, sugerindo que ele pode ter sido utilizado para fins medicinais ou rituais, e não culinários. Isso porque, textos bizantinos do século VI mencionam o uso de gordura de porco para tratar infecções, reforçando a hipótese de uma aplicação prática ou simbólica.

LEIA MAIS: 6 tipos de pessoas tóxicas: como identificá-las e se proteger

Como um objeto romano foi parar em um túmulo anglo-saxão?

cálice romano
Cálice indicado ao lado da cabeça da falecida(Revista Archaeology News) Online

Os especialistas consideram duas hipóteses principais para explicar a presença do cálice. A primeira sugere que ele pode ter sido retirado de um enterro romano anterior, enquanto a segunda defende que ele foi preservado como uma relíquia ou herança familiar. Ambas as teorias ressaltam o valor simbólico atribuído ao objeto, que transcendeu gerações e contextos culturais.

O simbolismo dos cálices ao longo do tempo

Os cálices desempenharam papéis importantes em várias culturas. Na Europa medieval, nobres utilizavam cálices como símbolos de status em banquetes. No cristianismo, o cálice representa a Paixão de Cristo e associa-se à Última Ceia. Em outras culturas, como o hinduísmo e o islamismo, cálices servem em cerimônias religiosas e rituais.

Além disso, o cálice permanece presente no imaginário popular, destacando-se em lendas como o Santo Graal, associado à busca espiritual e ao misticismo.

LEIA MAIS: Um achado arqueológico raro evidencia a expansão do cristianismo no Império Romano

Assim, a descoberta do Cálice Scremby abre uma janela para a compreensão das conexões culturais e práticas sociais de diferentes períodos históricos. A sua descoberta enfatiza a importância de continuar investigando o passado para desvendar mistérios que moldaram nossas sociedades.

Pesquisas continuam sendo realizadas para entender melhor o papel desse objeto e seu impacto no contexto anglo-saxão. Enquanto isso, o cálice continua sendo um símbolo do fascínio humano pelo passado e suas complexidades.

Comentários estão fechados.