Feitiços e superstições: como os romanos buscavam vantagem nas disputas

As tabuletas romanas revelam um lado sombrio da sociedade antiga, onde a magia era usada para obter vantagens e vingança

Você já precisou de um apoio adicional para vencer uma disputa? Na Roma Antiga, muitos recorriam a feitiços. Cidadãos romanos utilizavam as chamadas tabuletas de maldição, placas de chumbo nas quais gravavam maldições e pedidos de desgraça contra seus oponentes.

Empregadas em processos judiciais, competições esportivas e questões amorosas, essas inscrições buscavam influenciar forças sobrenaturais para obter vantagem em situações desafiadoras.

Tabuletas romanas usadas para feitiços

O conteúdo das tabuletas revela uma mescla de superstição e um desejo intenso de obter justiça ou vingança. As inscrições evidenciam como as pessoas comuns escreviam e falavam em latim vulgar, oferecendo uma fonte valiosa de informações sobre a língua e sua evolução.

Essas tabuletas apresentavam uma linguagem que frequentemente se afastava do latim clássico, refletindo como os romanos se expressavam no cotidiano, com erros gramaticais e ortográficos que ajudam a compreender melhor a pronúncia e as variações da língua.

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As tabuletas conhecidas como defixionum tabellae tinham a finalidade de “imobilizar” o alvo da maldição. Isso deriva do verbo defigere, que significa “prender”. Em casos jurídicos, as tabuletas iudiciariae eram utilizadas para buscar vantagens nos tribunais, pedindo que os desafetos fossem prejudicados.

Nas competições, as tabuletas agonisticae visavam garantir vitórias ao amaldiçoar os oponentes. Havia também aquelas dedicadas a questões do coração, as tabuletas amatoriae, voltadas a amantes infiéis ou que não correspondiam ao interesse.

Prática antiga remonta a 500 a.C.

A prática de criar essas inscrições remonta a 500 a.C., estendendo-se até o século 5 d.C. Aproximadamente 600 tabuletas em latim foram descobertas, das quais 450 são legíveis. Os romanos frequentemente as enterravam em cemitérios, acreditando que o contato com os espíritos dos mortos aumentaria a eficácia das maldições.

Essas inscrições são significativas para os estudos linguísticos, pois revelam o latim vulgar, utilizado no cotidiano. A maioria das fontes sobre Roma apresenta o latim clássico, mais formal, enquanto as tabuletas evidenciam uma linguagem repleta de variações e erros comuns, típicos do latim do dia a dia.

Um exemplo disso é uma inscrição da Inglaterra, que diz: “Docimedis perdidi manicilia dua qui illas involavi ut mentes sua perdat.” A frase apresenta desvios ortográficos e diferenças na estrutura em comparação com o latim clássico, proporcionando pistas sobre a pronúncia e a evolução dalíngua.

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As 130 tabuletas e Bath

Um exemplo notável é o conjunto de cerca de 130 tabuletas descobertas em Bath, Inglaterra, dedicadas à deusa Sulis Minerva. Nelas, os autores solicitavam à deusa que punisse ladrões ou rivais, desejando-lhes infortúnios como perda de saúde ou sanidade até que reparassem seus atos.

Tabuinha do Larzac

feitiços romanos
Fragmento da tábua do Hospital du Larzac, conservado no Museu de Millau — Foto: Wikimedia Commons

Outro exemplo significativo é a Tabuinha do Larzac, descoberta em 1983 na França. Datada do século I d.C., essa tabuinha contém uma longa inscrição em gaulês, considerada uma das mais extensas nesse idioma.

O texto, escrito em cursiva romana, é uma maldição dirigida a um grupo de mulheres, possivelmente feiticeiras rivais, e foi enterrada em uma tumba, prática comum para que a maldição fosse executada pelas divindades infernais. Esse artefato ilustra como os romanos utilizavam rituais mágicos para buscar justiça ou vantagem em conflitos pessoais.

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