Será que múmias transmitem doenças igual nos filmes?
Evidências de doenças antigas em múmias, como a varíola em Ramsés V, levantam questões sobre a transmissão para humanos modernos.
Você já se perguntou se as múmias, esses enigmáticos vestígios do passado, poderiam ser portadoras de doenças capazes de afetar os humanos modernos? Apesar de parecer uma premissa de filme de ficção científica, a questão tem fundamento e já foi alvo de diversos estudos científicos.
Leia mais: Corpo, mente e espírito: a prática indiana que transforma sua vida
Múmias e doenças antigas
As múmias são corpos preservados, intencionalmente ou naturalmente, que resistiram à decomposição através de técnicas específicas ou condições ambientais favoráveis. A prática de mumificação é mais frequentemente associada ao antigo Egito, onde foi desenvolvida para preservar os corpos dos mortos para a vida após a morte, um conceito central na religião egípcia. Os egípcios acreditavam que a preservação do corpo era essencial para a sobrevivência da alma no além, onde o falecido continuaria sua existência. Assim, a mumificação era um processo sagrado e crucial para garantir uma passagem segura e uma vida eterna próspera.
Esse processo pode ocorrer naturalmente, devido a condições ambientais específicas, como em climas extremamente secos, frios ou em locais com baixos níveis de oxigênio, ou pode ser artificial, resultado de técnicas de mumificação desenvolvidas por diversas culturas ao redor do mundo.
Leia mais: Achado de Stephen Compton: confirmação do cerco Assírio a Jerusalém?
Como era o processo de mumificação
A mumificação no antigo Egito era um processo complexo e meticuloso, realizado por especialistas conhecidos como embalsamadores. Primeiro, lavava-se o corpo e o purificavam. Em seguida, removiam os órgãos internos, com exceção do coração, que se acreditava ser o centro da inteligência e emoção e, portanto, deixado no corpo. Então, tratavam esses órgãos separadamente e, muitas vezes, os colocavam em vasos canópicos. Após a remoção dos órgãos, realizava a desidratação do corpo com natrão, uma mistura de sal natural, por cerca de 40 dias. Esse processo eliminava toda a umidade, essencial para prevenir a decomposição.
Depois da desidratação, envolviam o corpo em bandagens de linho embebidas em resinas e óleos aromáticos, que ajudavam na preservação e proteção do corpo contra bactérias e insetos. Amuletos e outros objetos sagrados eram colocados entre as camadas de bandagens para proteger o falecido durante sua jornada para o além. Finalmente, o corpo mumificado era colocado em um sarcófago ou caixão decorado com inscrições e imagens que facilitariam a viagem para o mundo dos mortos e assegurariam uma vida após a morte bem-sucedida.
Leia mais: Genética ou estilo de vida: estudo mostra o que te faz viver mais
Mas afinal, as múmias podem transmitir doenças?
De fato, já se encontrou evidências de doenças como a varíola em múmias egípcias, como as cicatrizes no corpo de Ramsés V, o quarto faraó da 20ª dinastia do Egito. No entanto, a probabilidade de doenças milenares se propagarem para os seres humanos hoje é extremamente baixa, quase nula.
Os cientistas explicam que vírus como o da varíola necessitam de células vivas para se reproduzir, algo impossível em corpos mumificados que datam de milhares de anos. Além disso, o processo de degradação do DNA ao longo do tempo dificulta ainda mais a sobrevivência de patógenos antigos.
Contudo, existem organismos, como alguns vermes parasitas, que demonstram maior resistência e longevidade. Eles podem persistir por mais tempo, mas a sobrevivência por milhares de anos ainda é altamente improvável. Mesmo no caso improvável de sobrevivência desses parasitas, as rigorosas medidas de segurança adotadas por pesquisadores, como o uso de máscaras e luvas, minimizam qualquer risco de contaminação.
Portanto, a hipótese de múmias serem uma fonte de doenças contagiosas para humanos permanece, por enquanto, no reino da ficção. Enquanto os pesquisadores continuam a desvendar os segredos do passado, as medidas de segurança e os estudos científicos garantem que a curiosidade histórica não se transforme em ameaça à saúde pública. Assim, o cenário de doenças ancestrais ressurgindo no mundo moderno continua sendo mais adequado para as telas de cinema do que para as salas de pesquisa.
Comentários estão fechados.