Fraude alimentar: o que você precisa saber para proteger sua saúde

Os riscos da fraude alimentar, os alimentos mais afetados e como identificar produtos adulterados

Em matéria publicada em julho, a BBC Brasil trouxe o caso de um vídeo viral na Índia mostrando uma provável fraude na produção de castanhas de caju. Ainda que o caso tenha ocorrido quase do outro lado do mundo, o problema da fraude alimentar é bem comum no Brasil, também.

Afinal, quem é que nunca viu notícias na mídia sobre fiscalizações e apreensões por parte de órgãos regulares. Mas, o que exatamente configura um alimento fraudado? E como identificar na hora de comprar?

O que é fraude alimentar?

A fraude alimentar refere-se à alteração intencional de alimentos, ingredientes ou informações relacionadas, com o objetivo de obter ganho financeiro. De modo geral, a prática envolve substituição, adição, diluição ou falsificação de produtos. Assim, resulta em interpretações enganosas para os consumidores. Como veremos adiante, além do impacto econômico, isso é crime e pode afetar negativamente a saúde.

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Como a fraude alimentar ocorre?

A princípio, a fraude pode ocorrer em qualquer etapa da cadeia produtiva. No entanto, os alimentos com alto valor comercial, que passam por várias etapas de processamento antes da venda, são mais suscetíveis à prática. Isso inclui principalmente produtos amplamente conhecidos. Geralmente, a adulteração envolve:

  • Alterações nos ingredientes
  • Omissões no rótulo
  • Adição de água para aumentar o volume
  • Substituição de componentes essenciais por outros mais baratos

Há lei para isso!

Embora isso seja uma prática comum, existe uma legislação que enquadra a fraude alimentar como crime. O problema é que, tanto no Brasil quanto no mundo, o avanço tecnológico e o conhecimento dos fraudadores tornaram as práticas cada vez mais sofisticadas. Consequentemente, mais difíceis de detectar.

Por outro lado, entidades implementam medidas para combater a contravenção. Uma delas é o Programa Nacional de Prevenção e Combate à Fraude e Clandestinidade em Produtos de Origem Vegetal (PNFRAUDE) que vale para o setor de bebidas. Ou seja, apesar dos desafios, há leis e ferramentas para a prevenção de fraudes. Afinal, isso é parte fundamental da gestão de segurança alimentar.

Os alimentos mais fraudados no Brasil

No Brasil, a fraude alimentar é uma preocupação crescente, e especialistas têm investigado quais produtos são mais frequentemente adulterados. Um estudo realizado por especialistas em certificação de cadeias produtivas, em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), analisou mais de 15 mil registros públicos entre os anos de 1980 e 2022. Os resultados revelam quais alimentos estão no centro dessa questão.

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Principais fraudes em alimentos no Brasil

Só para ilustrar o quanto o cenário é grave, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), em conjunto com especialistas das empresas estadunidenses FoodChain ID, Henry Chin and Associates e Moore FoodTech realizaram um estudo sobre fraude alimentar. Nele, avaliaram mais de 15 mil registros públicos de 1980 a 2022.

Conforme o levantamento, os alimentos mais fraudados no Brasil são:

  • Vinho: um dos produtos mais suscetíveis à adulteração. As práticas mais comuns, inicialmente, são a falsificação, diluição e substituição de variedades.
  • Café: aqui, temos a adição de grãos de menor qualidade ou mistura com outros ingredientes.
  • Azeite: a adulteração eventualmente envolve adição de óleos de qualidade inferior, como o de soja.
  • Suco concentrado e natural: diluição de sucos concentrados e a adição de açúcares.
  • Vinagre e fermentados acéticos: produtos falsificados ou diluídos.
  • Água de coco: adoçar a bebida além do permitido.
  • Feijão: mistura com grãos de soja ou outras substâncias.
  • Refrescos e preparados

Além dos itens acima, também há registros constantes de fraude alimentar em produtos de origem animal. Por exemplo:

  • Leite Pasteurizado: cerca de 6% das amostras analisadas estavam fora dos padrões, possivelmente adulteradas com soro de leite, açúcares, sais e conservantes.
  • Leite UHT e em pó: índices de conformidade de 90,15% e 93,41%, respectivamente.
  • Frango Congelado: adição de água resultando em índice de conformidade de 83,46%.
  • Pescados: quantidade de água adicionada para o congelamento revelou índice de conformidade de 91,3%.

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E no mundo? Quais os alimentos mais fraudados?

O levantamento conjunto também analisou quais os dez alimentos mais propensos à fraude alimentar em escala global. Segundo os resultados, são eles:

  • leite de vaca
  • azeite de oliva extravirgem
  • mel
  • carne bovina
  • pimenta em pó
  • azeite de oliva sem especificação de qualidade
  • cúrcuma em pó
  • leite em pó
  • vodka
  • ghee (manteiga clarificada)

Esses achados alertam sobretudo para os riscos à saúde pública. Com isso, destacam a necessidade contínua de vigilância e regulamentação rigorosa.

Os riscos da fraude alimentar para a saúde

A questão é que a fraude alimentar não apenas engana os consumidores, mas representa sobretudo uma ameaça direta à saúde. Inclusive ocorrências no mundo mostram porque essa preocupação não é exagero. Olha só:

  • Melamina no eite: na China, isso causou o adoecimento de mais de 300 mil pessoas em 2008, resultando na morte de seis bebês.
  • Azeite adulterado na Espanha: um caso levou a uma síndrome que causou cerca de 300 mortes e doenças crônicas.
  • Qualidade nutricional comprometida: as adulterações frequentemente reduzem a qualidade nutricional dos alimentos, privando os consumidores dos benefícios esperados.

Só para ilustrar, o estudo atual revela que 46% dos casos de adulteração de alimentos apresentam riscos potenciais à saúde dos consumidores. Ou seja, quase a metade deles.

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Como identificar fraudes nos alimentos?

Embora seja uma prática comum, há meios de identificar se aquele alimento que você está comprando foi vítima de fraude. Veja:

  • Confie nas instituições de fiscalização: as mudanças ilegais são muitas vezes sutis e difíceis de detectar visualmente. Por isso, confie nas instituições responsáveis pela fiscalização, como o Ministério da Agricultura e a Anvisa.
  • Desconfie de preços muito baixos: se um produto parece muito mais barato do que o usual, desconfie. Por exemplo, um azeite extravirgem de 500 ml normalmente custa entre R$ 40 e R$ 50. Promoções excessivamente vantajosas podem indicar adulteração.
  • Verifique selos de inspeção: procure por selos de inspeção ou fiscalização nos rótulos dos alimentos. O selo de inspeção federal (SIF) é um exemplo, assim como versões estaduais e municipais.
  • Atenção a mudanças no produto: se você perceber alterações significativas no sabor, textura, aroma ou outros aspectos de um alimento que costuma comprar, entre em contato com a empresa ou denuncie ao Mapa ou à Anvisa.

A fraude alimentar é coisa série e causa danos potenciais à saúde, além do bolso. Por isso, seja vigilante e diante de qualquer suspeita, denuncie!

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